terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mulheres em risco: 22 agressões por dia

Delegacia registra quase um caso por hora na Grande Vitória
16/01/2012 - 23h30 - Atualizado em 16/01/2012 - 23h30
A Gazeta

 
Rosana Figueiredo
rfigueiredo@redegazeta.com.br



No ano passado, 8,3 mil mulheres foram agredidas por seus companheiros na Grande Vitória. Isso significa cerca de 22 vítimas a cada dia, quase um caso por hora. Os números foram registrados pela Delegacia da Mulher em Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica e Viana.

Mas a boa notícia é que o número de agressores presos em flagrante aumentou nos últimos dois anos. Em Vitória, a quantidade de homens presos por violência contra a mulher cresceu 100% de 2010 para 2011. Em Vila Velha, a alta foi de 25%, enquanto que em Cariacica e Viana foi de 15%. O único município onde as prisões diminuíram foi na Serra.

Segundo a titular da Delegacia da Mulher de Vitória, Arminda Rodrigues, o principal motivo desse aumento foi uma mudança no procedimento de intimação dos agressores. "Antes, o homem que agredia uma mulher era intimado para comparecer à delegacia alguns dias após a agressão e isso levava tempo. Agora, em casos mais graves, assim que a mulher registra a agressão, uma equipe de policiais vai até o local e conduz o agressor à delegacia", explica.

Resultados
O aumento das prisões também diminuiu, segundo a delegada, o número de mulheres mortas. Também diminuíram os casos de mulheres constantemente espancadas. "As prisões estão inibindo alguns homens, mas é difícil afirmar que a violência contra a mulher diminuiu. O que posso afirmar é que as mulheres estão denunciando mais. Estão recebendo proteção e acreditando na lei", acredita a delegada.

No entanto, ainda é grande o número de vítimas que não denunciam seus agressores ou mulheres que registram ocorrência, mas recuam e retiram a queixa. "Muitas desistem, pois acham que o companheiro não vai ser preso, porque têm vergonha e até mesmo porque dependem financeiramente dele", completa.

Já havia tentado pedir a separação várias vezes, mas ele não aceitava. Quando falei, de uma forma mais firme, que queria me separar, ele começou as agressões. Queimou minhas roupas, meus sapatos, documentos e ainda me bateu. Também ameaçou me matar, matar minha mãe e raptar nossa filha. Quando me agrediu, me senti a pior pessoa do mundo. Não acreditava que aquilo estava acontecendo
comigo.

Perigo em casa
"Ele ameaçou me matar e raptar nossa filha"
A.25, auxiliar de enfermagem

Já havia tentado pedir a separação várias vezes, mas ele não aceitava. Quando falei, de uma forma mais firme, que queria me separar, ele começou as agressões. Queimou minhas roupas, meus sapatos, documentos e ainda me bateu. Também ameaçou me matar, matar minha mãe e raptar nossa filha. Quando me agrediu, me senti a pior pessoa do mundo. Não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo.

Análise

O homem age de forma covarde

Para muitos homens, a violência contra a mulher não é considerada agressão. Acreditam que a mulher é propriedade do marido e que podem fazer o que querem com o que é deles. Essa violência vai desde sexo forçado até agressões com tapas e socos. Na maioria dos casos, o homem age de forma covarde, agredindo o mais fraco. Faz isso para se impor. Não conquista a mulher pelo respeito, mas por medo. Porém, a Lei Maria da Penha está ajudando bastante. As mulheres estão mudando e, cada vez mais, perdendo o medo e denunciando os casos de agressão à polícia. A mulher também está perdendo o medo de se posicionar e hoje já diz o que pensa e não permite que o companheiro ou qualquer outra pessoa a machuque.
Zenaide Monteiro, psicóloga

Agressores
180 - Prisões em flagrante
Esse foi o número de agressores presos em Vitória em 2011.

Elas foram vítimas da violência
Cabelo
Em 24 de agosto de 2011, uma soldadora foi agredida pelo marido, teve dois dentes quebrados e o cabelo cortado à faca na Serra.

Droga
Em dezembro de 2010, uma dona de casa levou chutes e socos do marido. Ele não encontrava uma bucha de maconha e culpava a mulher por isso.
Fonte: Gazeta On Line

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Mulheres egípcias contam abusos que sofreram ao serem presas

Defensores dos direitos humanos acusam governo egípcio de abusos contra mulheres na praça Tahrir

09 de janeiro de 2012 | 12h 13
 
CAIRO - Um ano depois da revolução que tirou do poder o ex-presidente Hosni Mubarak, muitas mulheres do Egito passam por um momento de decepção com a política do país.
 
As mulheres sentiam que tinham poucos direitos ou proteção nos anos de governo de Mubarak, mas um sentimento de libertação depois da queda do antigo regime aumentou as esperanças entre muitas egípcias e elas podiam ser vistas na linha de frente junto com os homens durante os confrontos na praça Tahrir, no Cairo.
Ativistas defensores dos direitos humanos no país acusam o Conselho Supremo das Forças Armadas, a junta militar que governa o Egito, de atacar sistematicamente mulheres na praça do Cairo, para afastá-las dos protestos.
Uma fotografia mostrando uma cena deste tipo de violência chocou o mundo. A imagem mostrava um policial militar egípcio espancando uma manifestante, que usava o véu (hijab) e arrastando-a pela rua, o que abriu suas roupas.
A mulher espancada participava de um protesto na praça Tahrir em dezembro, quando a polícia militar atacou os manifestantes. 

'Momento certo'
Em janeiro de 2011, durante os 18 dias de rebelião que resultou na queda de Mubarak, as mulheres egípcias enfrentaram, juntamente com os homens, gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água da polícia na praça Tahrir.

Mas, a decepção das mulheres começou semanas depois da queda do antigo regime. Centenas delas ainda estavam na praça, comemorando o Dia Internacional das Mulheres e tentando atrair a atenção para os direitos das mulheres, mas grupos de homens começaram a adverti-las, afirmando que não era o momento certo para chamar a atenção para estas questões.
Entre as manifestantes estava a ativista Sally Zohney, que lidera projetos para juventude do grupo voltado aos direitos das mulheres da ONU. Para ela, a afirmação de que "não é o momento certo" para discutir os direitos das mulheres não faz sentido.
"As mulheres participaram desde o início da revolução", disse.
"As pessoas me chamam de feminista todas as vezes que expresso opiniões que me diferenciam de um capacho", escreveu Zohney no Twitter, onde mantém uma presença ativa.
No dia seguinte ao Dia Internacional da Mulher, o Exército realizou uma operação para retirar os manifestantes da praça. Centenas de pessoas foram presas e 17 mulheres estavam entre os detidos.
Inicialmente elas foram levadas para o Museu Egípcio, onde sofreram abusos verbais, foram espancadas e submetidas a choques elétricos. 

Testes de virgindade
Naquela ocasião, muitas prisioneiras foram submetidas aos polêmicos testes de virgindade. Entre elas estava Samira Ibrahim que, junto com outras mulheres, foi levada para um centro de detenção do Exército.

No local elas foram divididas em dois grupos, casadas e solteiras. Samira ficou entre as solteiras e então foi levada para outra sala
"Naquela sala havia uma mulher que me mandou tirar as roupas, pois queria verificar se eu era virgem ou não. Respondi que isso era ilegal e que eles não tinham direito de pedir para que eu ficasse nua na frente de todo mundo."
"Depois que eles me deram outro choque, parei de resistir. O teste foi feito por um homem que usou as mãos para fazer isso, durante cinco minutos", contou Samira.
A jovem entrou com um processo para impedir que o conselho militar continuasse com os testes de virgindade. A Justiça egípcia determinou que os testes eram ilegais. 

Independente
A cineasta independente Nada Zatouna também foi atacada e presa enquanto filmava confrontos entre a polícia e manifestantes perto da praça Tahrir.

Ela ainda vai à praça no centro do Cairo, apesar da prisão em 2011.
"Eles (o governo) acham que podem nos vencer com tortura, mas agora estamos mais fortes", disse a jovem de 19 anos à BBC.
Zatouna mora sozinha no Cairo, uma cidade onde mulheres e homens geralmente vivem com os pais até se casarem, não importa a idade. A decisão da cineasta ainda gera problemas.
"Uma vez, amigos vieram me visitar e fiquei chocada, o porteiro veio até meu apartamento e ameaçou chamar a polícia, pois homens e mulheres estavam juntos no apartamento", disse. 

Esperança
Apesar da decepção, muitas mulheres votaram nas eleições de novembro.

"É a primeira vez que votei em uma eleição na qual eu não sabia o resultado antes", disse uma das eleitoras à BBC.
O novo Parlamento egípcio eleito na votação de novembro terá poucas mulheres. O Partido da Liberdade de Justiça, da Irmandade Muçulmana, deverá ter a maior representação neste novo Parlamento.
O partido é apenas um entre os vários partidos egípcios que têm poucas mulheres entre seus quadros.
Sarah Mohamed, de 19 anos, votou nas eleições e é integrante da Irmandade Muçulmana e afirma que está decepcionada com esta baixa representação.
"Me sinto mal, pois as pessoas devem saber que as mulheres tem um papel mais importante na vida política. As mulheres podem fazer mais do que apenas ficar em casa e criar os filhos", disse.
A jovem sonha em ser eleita primeira-ministra do Egito.
 
Fonte: Estadão

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Afegã é perdoada, mas terá que se casar com estuprador para ficar com a filha







Gulnaz, 21, ainda luta pelo direito de escolher livremente com quem deseja se casar

A afegã Gulnaz (foto), de 21 anos, conquistou o indulto do governo afegão, mas terá que se casar com o homem que a estuprou e a engravidou. A decisão foi tomada com base na rígida lei islâmica – a sharia – e como meio de legitimar sua maternidade sobre a criança que deu à luz enquanto presa.

A jovem havia sido condenada a 12 anos de prisão, sob acusação de adultério, mas teve sua “pena” reduzida para três. O agressor, por sua vez, também será punido. Como ele era casado à época do crime, a justiça afegã o enquadrou como adúltero, o que resultará em uma pena de sete anos de prisão.

Gulnaz aceitou casar-se por conta de sua filha. Ela ainda corre o risco de sofrer um “assassinato de honra”, que muitas vezes são cometidos pelos próprios familiares ao se considerarem desonrados.

CNN/Reprodução

Em entrevista à emissora britânica BBC, a advogada de Gulnaz, Kimberley Motley, disse que o desejo da vítima era “poder escolher livremente entre casar ou não com o homem que a agrediu”.

Emal Faizay, porta-voz do governo afegão, informou que o ministro da justiça do país participou de uma reunião com a jovem. Ela teria dito, na ocasião, que só aceitaria casar-se com o estuprador na hipótese de seu irmão também se casar com a irmã dele.

Cerca de 5000 pessoas assinaram uma petição pela liberdade de Gulnaz. O embaixador da União Europeia no Afeganistão disse se sentir “maravilhado” com a notícia de que ela havia sido solta. Segundo ele, “o caso serviu para destacar o dilema das mulheres afegãs, que, mesmo depois de 10 anos da queda do regime do Talibã, ainda sofrem em condições inimagináveis, privadas até mesmo dos mais básicos direitos humanos”.

Fonte: Ópera Mundi

Afegã de 15 anos é torturada pelo marido por não querer prostituir-se



Presa em sótão, ela foi espancada, passou fome e teve unhas arrancadas
Uma jovem afegã de 15 anos de idade foi torturada e mantida em cativeiro por seu marido durante meses quando se recusou a se prostituir. Os parentes do agressor também participaram dos atos de violência. Presa no sótão de sua casa, ela teve suas unhas arrancadas e sofreu de espancamentos à queimaduras. Por muitas vezes, ela teve refeições negadas.

Oficiais afegãos anunciaram que a adolescente Sahar Gul será enviada à Índia para receber tratamento médico. A polícia já prendeu a sogra e a cunhada da adolescente, suspeitas de terem sido cúmplices do crime. Seu marido, Gulam Sakhi, um militar, e seu sogro permanecem foragidos.

A jovem já está em recuperação e apresenta melhoras gradativas. Entretanto, foi submetida a tratamento psiquiátrico, pois o longo período de reclusão pode ter causado traumas.

Em uma primeira ocasião, segundo testemunhas da comunidade onde vivia, Gul tentou fugir e refugiar-se na casa de vizinhos. A líder comunitária local, identificada como Ziaulhaq, conta que ela “percorreu toda a vizinhança, falando que seu marido queria transformá-la em prostituta”.

Os moradores garantem que acionaram a polícia. Ao chegarem ao local, as autoridades foram desafiadas pela sogra. A mãe de Gulam Sakhi argumentava que seu filho havia comprado a jovem por um dote de mais de quatro mil dólares. Em seu entendimento, seu filho possuía o direito de fazer o que bem entendesse com a jovem.

Mesmo após a primeira averiguação policial, Sahar Gul voltou para o cativeiro. Ziaulhaq acusa a família de família pagar propina aos oficiais para encobrir as denúncias. Rahima Zarifi, chefe do departamento de mulheres da província de Baghlan afirma não conhecer a razão de a jovem ter retornado para a guarda do marido.

A tortura teve fim apenas com a visita do irmão da jovem, que a encontrou em condições críticas, incapaz até mesmo de se comunicar. As autoridades tentaram, então, resolver o impasse por meio de estratégias “tradicionais”, ou seja, negociando verbalmente com o marido e o irmão da vítima.

O presidente afegão, Hamid Karzai, prometeu que os responsáveis serão punidos.

Fauzia Kufi, uma parlamentar afegã militante dos direitos das mulheres, lembra que houve uma enorme pressão para que o caso não se tornasse público. No Afeganistão, “muitos não levam a sério esse tipo de crime e acham que não deve ser noticiado. Até mesmo as autoridades culpam os departamentos de mulheres por não resolverem esses impasses localmente, de maneira tradicional entre as famílias”, conta a ativista ao jornal britânico Guardian.

Um consultor do Ministério da Saúde Pública, Abdullah Fahim, concorda com a opinião de Kufi: “Nós temos diversos casos como esse, especialmente em locais remotos do país aonde não há uma forte atitude pelos direitos das mulheres”.

O Afeganistão implementou há dois anos uma lei de eliminação da violência contra as mulheres, mas é constantemente acusado pela comunidade internacional de não fiscalizar esse tipo de violação. Um recente relatório das Nações Unidas revela que apenas 26% dos casos de violência registrados por grupos de defesa dos direitos humanos tornaram-se processos e investigações na justiça afegã. As informações são da agência de notícias Associated Press.

Fonte: Ópera Mundi