sexta-feira, 3 de julho de 2009

A luta de uma “Ana” no Afeganistão


Minientrevista publicada pelo jornal mineiro “O Tempo”, Domingo, 14 de junho e 2009. Belo Horizonte
Entrevistada: Malalai Joya, militante afegã, 31 anos e ex-membro do Parlamento do Afeganistão


“No Parlamento várias vezes escutei: ‘estuprem ela’. O fato de você ser mulher já é considerado pecado”


Jornal O Tempo: Em 2007, você foi expulsa do Parlamento. Por que isso aconteceu?
Malalai Joya: O Parlamento não é democrático. Ali manda quem tem dinheiro e armas. Quando perceberam que não podiam em impedir de ter voz ali dentro, me ameaçaram e depois de expulsaram.


Jornal O Tempo: O fato de você ser mulher também contribuiu?
Malalai Joya: Sim. O fato de ser mulher já é considerado pecado. Há a idéia de que política é coisa para homem. Hoje, 70% das afegãs não vão à escola, poucas têm emprego e várias são vítimas de estupro, praticado impunimente.


Jornal O Tempo: Você ainda recebe ameaças?
Malalai Joya: No Parlamento várias vezes escutei: “estuprem ela”. Era chamada de prostituta. Recebo ameaças de morte. Presciso sair sempre de burkha e nunca fico muito tempo em uma mesma casa.


Jornal O Tempo: Como é seu trabalho de militância?
Malalai Joya: Recebo visitas de vítimas e tento revelar ao mundo, por meio da mídia internacional, a realidade afegã. Tenho também uma clínica que presta assistência médica a mulheres e crianças. Recolho documentos que provam as atrocidades realizadas por quem está no poder e quero levar esse material a um tribunal internacional de Justiça.


Jornal O Tempo: Quais são os principais problemas enfrentados pelos afegãos?
Malalai Joya: Somente 2% da população tem luz elétrica e 8% acesso ao serviço sanitário. A expectativa de vida é de 44 anos. O afegão sofre devido à pobreza, ao tráfico de ópio e à inexistência de leis no país.


Jornal O Tempo: Quem tras esses problemas ao Afeganistão?
Malalai Joya: O afegão possui três inimigos: o Taleban, que oprime; os senhores de guerra, e a ocupação norte-americana, que continua a matar civis.

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